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  • anibaljacinto

Visitar Serra da Estrela (no verão)

Atualizado: 9 de nov. de 2021

Quando pensamos na Serra da Estrela, automaticamente nos vem à memoria imagens de montanhas cobertas de neve, de ski (ou sku) e de bonecos com nariz de cenoura. Mas a Serra também pode ser um fantástico destino de verão. E é isso que vamos mostrar - um roteiro de verão na Serra da Estrela.

Os trilhos, os caminhos sinuosos, os característicos penedos, as lagoas e praias fluviais. A história, as aldeias típicas, as montanhas e as deslumbrantes paisagens. Tudo para ser feito e visto com calma, a um ritmo lento, numa simbiose perfeita com a natureza.

A maior cadeia montanhosa de Portugal continental (atinge 1993 metros de altitude na Torre), é mais do que uma montanha, é uma região com mais de 101 mil hectares de paisagens, que atravessa dois distritos (Guarda e Castelo Branco) e seis concelhos (Guarda, Manteigas, Seia, Gouveia, Celorico da Beira e Covilhã).

A Serra da Estrela é o berço dos dois maiores rios nascidos em Portugal, Mondego e Zêzere, a que se juntam o Alva e o Côa. A estes acrescentam-se 25 lagoas de origem glaciar e várias praias fluviais.

Para os amantes de turismo de natureza, a Serra da Estrela é um dos locais de eleição, até porque a cada visita existe algo novo para nos encantar.

Covão dos Conchos
 

Como chegar?


O Parque Natural da Serra da Estrela fica bem no interior de Portugal, a cerca de 300 km de Lisboa e 200 km do Porto e integra a Cordilheira Central Portuguesa, junto com a Serra do Açor e a Serra da Lousã.

As principais subidas à Torre são: Seia/Sabugueiro (via N339), São Romão (via M513), Loriga (via N231), Unhais da Serra (via N339), Covilhã (via N339) ou Manteigas (via N338).

 

DIA UM:

PRAIA FLUVIAL DO POÇO DA BROCA


O nosso roteiro começa no Poço da Broca, no sopé da Serra da Estrela, na ribeira de Alvôco, mais propriamente na Aldeia de Barriosa, em Vide. Pequenas quedas de água formam uma agradável praia fluvial conhecida pela sua beleza e tranquilidade.

Este simpático local foi obra de intervenção humana, que há mais de 200 anos, procedeu à criação de vários socalcos e ao desvio do curso da água, tornando os terrenos planos e mais férteis. Com isso surgiram várias quedas de águas, que tal como uma broca formaram uma espécie de poço, daí o seu nome, “Poço da Broca”.

A lembrar os tempos agrícolas, sobram dois simpáticos burros.

Local perfeito para passar um dia ou apenas umas horas, com uma paisagem deslumbrante, onde as águas são frias mas cristalinas, típicas de montanha. Pode-se percorrer os diversos desníveis por entre lagoas e cascatas.

No restaurante “Guarda Rios" pode-se desfrutar de uma deliciosa refeição, na esplanada com uma belíssima paisagem para a praia fluvial.

Conta também com estacionamento e outras infraestruturas de apoio.

Poço da Broca
Poço da Broca

PRAIA FLUVIAL DE LORIGA


Já no Parque Natural da Serra da Estrela, banhada pela ribeira de Loriga, chegamos a uma das mais bonitas praias fluviais de Portugal.

É um local de beleza extrema, situada num vale glaciar (única em Portugal), foi finalista das 7 Maravilhas de Portugal - Praias Fluviais.

A ponte romana guarda encantadoras lagoas enquadradas pelas altas montanhas da Serra.

É simplesmente delicioso sentarmo-nos á beira de uma das lagoas, baloiçar as pernas dentro de água e respirar profundamente o ar da Serra. Momentos simples que nos deixam saudade!

Dispõe de estacionamento, parque de merendas, bar, loja, WC e parque infantil.

É também ponto de partida para vários trilhos.

Praia Fluvial de Loriga

TORRE


De seguida vamos subir ao ponto mais alto de Portugal continental. A 1993 metros de altitude, onde foi construída uma torre com 7 metros de altura de forma a alcançar os simbólicos 2000 metros de altitude.

Deste majestoso miradouro natural obtemos uma imagem panorâmica brutal sobre os vales e rochedos, num mesclado de xisto e granito serpenteado pelo azul dos cursos de água e lagoas. De verão, em dias claros, é possível até ver o mar, podendo a vista alcançar a praia da Figueira da Foz.

Neste ponto existem várias lojas que oferecem produtos regionais, como o famoso Queijo da Serra, o mel, o pão, os enchidos e o artesanato variado. Assim como várias recordações ou artigos para a neve.

Paisagem da Torre

LAGOA COMPRIDA


A Lagoa Comprida é a mais conhecida e a maior das lagoas do maciço superior da Serra da Estrela. Construída a partir de uma lagoa natural, constitui o principal reservatório de água da Serra da Estrela.

Era um antigo glaciar com um quilómetro de extensão. Aproveitando o covão, iniciou-se em 1912 a construção da barragem. Em 1914 tinha uma altura de seis metros e em 1934 atingia os 15 metros. Atualmente, desde 1965, tem uma altura de 28 metros. É uma barragem do tipo gravidade, formada por três arcos de alvenaria de granito com 1200 metros de desenvolvimento. A albufeira tem a capacidade de cerca de 12 milhões de m3 de água, e inunda uma área de 800.000 m2, onde se formam pequenas "praias" onde muitas pessoas se deliciam nos quentes dias de verão.

Nesta lagoa desaguam dois túneis: o do Covão do Meio, com 2354 metros que desvia a água das encostas do Planalto da Torre e o do Covão dos Conchos com 1519 metros que desvia as águas da Ribeira das Naves. E este será o nosso próximo destino!

Lagoa Comprida

COVÃO DOS CONCHOS


O Covão dos Conchos tornou-se famoso devido a uma série de filmes gravados com um drone, que mostravam as águas da lagoa a precipitarem-se num gigantesco funil e a desaparecerem misteriosamente.

Esse funil não é mais do que um túnel construído na década de ’50 e que leva as águas recolhidas da Ribeira das Naves e as encaminha para a Lagoa Comprida, bem mais abaixo. O túnel tem 48 m de coroamento e 1519 metros de comprimento.

O acesso ao Covão dos Conchos é feito a pé por uma estrada de terra batida a partir da Lagoa Comprida.

De referir que estamos a mais de 1500 metros de altitude, a vegetação é apenas rasteira, sombras nem vê-las e o ar é menos denso e respirável.

São 5 km de caminho (não se esqueçam que é preciso regressar por isso contem com uma caminhada de 10 km e pelo menos 3 horas de caminho) que alterna entre o razoável e o difícil, com muitas pedras soltas e algumas subidas e descidas. Basta seguir o trilho, passamos ao lado da Lagoa Comprida, passamos por uma espécie de bungalow e por uma casa branca junto à albufeira. Nessa altura o caminho fica ainda mais complicado, vamos mais ou menos a meio quando do outro lado da lagoa avistamos uma queda de água. Depois subimos, descemos, fazemos uma grande curva à esquerda, mais um pouco e chegamos. Ao Covão! A primeira pergunta é "onde raio está o buraco"?

Escondido do lado esquerdo da lagoa, lá está ele, o famoso funil que invadiu a internet e se tornou viral. Uma simples mas incrível obra escondida no alto da serra mais alta de Portugal continental. Check na Lista de Locais a Visitar!

Covão dos Conchos
Covão dos Conchos

SABUGUEIRO


A aldeia mais alta de Portugal. Aconchegada entre montes e protegida por grandes rochedos de granito, aqui o ar é puro e respira-se tradição. As lojas de comércio local, com produtos regionais como o mel ou o queijo. Os pequenos cães da serra à espera de adoção. As gentes de traços duros do frio do inverno e do trabalho do campo. Que mantêm vivos ecos do passado, da vida agrícola e da pastorícia.

Em frente ao mais recente hotel de quatro estrelas passa um rebanho de ovelhas com o seu chocalhar característico, um agricultor regressa de enxada na mão e as mulheres estendem as negras roupas nos estendais.

O cheiro do pão quente, o som da água a descer a serra e o dourado do por do sol acalma-nos a alma e conforta-nos o corpo.


DIA DOIS:


CÂNTARO MAGRO


Este é um imponente rochedo com uma altura de cerca de 500 metros, que atinge no ponto mais elevado a altitude de 1.928 metros e que não deixa ninguém indiferente à sua passagem.

Visível de muitos pontos da Serra da Estrela, o Cântaro destaca-se pela imponência das suas paredes escarpadas.

De granito modelado pela erosão glaciar e fluvial, este monstro de pedra recostado sobre o brutal Vale Glaciar do rio Zêzere, constitui um dos locais mais interessantes e mais procurados para a prática de escalada na Península Ibérica.

Nasce no Covão D'Ametade e tem o seu ponto mais alto próximo da Torre.

Cântaro Magro

NOSSA SENHORA DA BOA ESTRELA


Situada no lugar de Covão do Boi encontra-se esculpida na rocha a graciosa Senhora da Boa Estrela.

Inaugurada em 1946, a escultura com mais de 7 metros de altura foi elaborada por António Duarte, partindo da intenção do pároco local em prestar homenagem à santa protetora dos pastores, que enfrentam há séculos as intempéries da agreste região.

Nossa Senhora da Boa Estrela

Lenda do pastor da serra


Era uma vez um pastor que vivia com o seu rebanho numa alta serra do centro de Portugal. Como todos os pastores, fazia da solidão uma amiga. A companhia da natureza e dos animais bastavam-lhe. Há muito tempo que tinha trocado a aldeia pelos altos e grandes planaltos, onde sempre se tinha sentido melhor.

De dia, corria e brincava com os animais e, quando já estava cansado, então apenas observava. A vastidão e o colorido de uma paisagem sempre a mudar.

Já lhe conhecia bem as maneiras, os sons e os cheiros. E à noite, recolhido o rebanho ainda lhe sobrava tempo para falar de tudo o que lhe apetecia com a sua grande amiga. Era mesmo grande, aquela estrela que se erguia imponente e luminosa bem acima do alto da serra, rodeada por milhares de outras mais pequenas.

Era a sua confidente de todas as noites. Ouvia-o sem nunca se aborrecer. E ele voltava sempre à procura daqueles momentos mágicos em que encontrava paz e entusiasmo para recomeçar um novo dia.

Certa vez, chegou aos ouvidos do Rei que nas suas terras havia um pastor que falava com as estrelas e logo, por curiosidade ou inveja, o mandou chamar à sua presença, propondo-lhe que trocasse a estrela falante por uma grande riqueza. Afinal de contas, não era qualquer rei que se podia gabar de falar com uma estrela.

O pastor disse-lhe então que não trocaria a sua amiga por riqueza alguma deste mundo. Antes ser pobre e continuar feliz. Desapontado, mas compreendendo as suas razões, o rei, mandou-o em paz. Quando chegou à cabana no alto da serra, mal anoiteceu, foi ter com a sua amiga estrela e, dessa vez, foi ela a confessar-lhe os seus receios.

Entoando uma doce melodia, disse-lhe que, por momentos, chegou a pensar que ele a tivesse trocado pelo dinheiro do poderoso rei.

Foi a vez do pastor a sossegar, dizendo-lhe que a sua amizade era para ele a mais preciosa das coisas e, em alta e profética voz, deu o seu nome àquela que era também a sua serra: Serra da Estrela. Ainda hoje se diz que na Serra, uma estrela diferente das outras brilha à procura do seu pastor.


COVÃO D'AMETADE


A estrada que nos leva ao Covão d'Ametade (e posteriormente a Manteigas) é das mais belas e cénicas de Portugal. O Vale Glaciar do Zêzere marca a paisagem, a passagem no túnel, os miradouros e trilhos, as lagoas, a estrada estreita, as curvas e contracurvas, as marcas a amarelo e os raids em cimento, fazem desta estrada o cenário perfeito para uma viagem romântica.

O Covão d'Ametade é um cenário paradisíaco carregado de um sentimento inocente e romântico, um dos locais mais simbólicos e mais belos da Serra da Estrela. As arvores parecem debruçar-se para abraçar a ribeira e a ponte enquadra-se na perfeição no cenário.

Está localizado no início do Vale Glaciário do Zêzere. Atualmente é aqui que o rio Zêzere toma corpo, na pequena planície com origem em sedimentos glaciários que anteriormente foi uma lagoa. É uma zona bastante atrativa devido à vegetação envolvente maioritariamente composta por bétulas, planta esta que tem a particularidade de criar um ecossistema com uma grande biodiversidade. Apesar do local estar a uma quota perto dos 1500 metros de altitude, só não está acessível nos dias de inverno mais rigoroso em que as estradas não permitem passagem devido à queda de neve. Este local é procurado pelos desportistas de inverno e de montanha que optam por começar nesta zona as suas caminhadas e escaladas ao longo dos covões e formações rochosas que terminam junto ao Cântaro Magro.

O rio Zêzere começa a ganhar a sua forma no Covão d´Ametade, onde se passeia com sobeja vaidade, como que preparando-se para engrossar o caudal das suas águas cristalinas ao longo do vale Glaciar do Zêzere, para depois as depositar, com toda a sua força, no rio Tejo.

Covão d'Ametade
Covão d'Ametade

POÇO DO INFERNO


Continuamos na maravilhosa N338 em direção a Manteigas e pouco antes do Viveiro das Trutas viramos à direita para outro ícone da Serra da Estrela - o Poço do Inferno.

A estrada é razoável, com alguns locais onde é difícil o cruzamento de viaturas, que nos leva a um estacionamento que fica a uns 200 metros da cascata.

O Poço, situado a 1080 metros de altitude , é uma espetacular queda de água de 10 metros, de águas límpidas e gélidas que atravessa a singela Ribeira de Leandres, acabando por desaguar no grande Rio Zêzere.

É um local muito bonito mas com muita afluência de pessoas (até pelo fácil acesso), por isso o apetecível mergulho fica para uma próxima.

Poço do Inferno

PENHAS DOURADAS


Parte integrante do Parque Natural da Serra da Estrela, aqui temos uma fantástica vista sobre a vila de Manteigas e sobre o Vale Glaciar do Rio Zêzere.

Glorificada pela natureza serrana que lhes confere uma beleza única, a zona é conhecida por ter a primeira estância de turismo de montanha do país, estando rodeada pelos seus famosos chalés.

Por entre bosques de pinheiro-silvestre, poderá aqui aproveitar e conhecer a célebre barragem do Vale de Rossim.

Aqui encontramos a mais alta praia fluvial de Portugal, a uma altitude de 1437 metros. Conta com uma beleza única digna de valorizar e proteger, aqui podemos aproveitar para fazer algumas atividades de lazer, como rappel, slide ou canoagem. É ideal para passar o dia em família ou entre amigos tendo por ali um bar de apoio com música, Wi-Fi e SPA.

Para quem pretende ficar a aproveitar por mais tempo a beleza deste vale existe um Eco Resort. Conta com um espaço para campismo mas também com yurts (tendas de origem mongol). Aqui pode-se juntar o útil ao agradável. À natureza acrescentamos as comodidades de um quarto de hotel.

 

Outros Roteiros:


 
Nota: De referir que este roteiro (como os outros) pretendem ser apenas guidelines e não para serem obrigatoriamente cumpridos à risca. Cada visitante pode acrescentar ou retirar locais, fazer em mais ou menos dias. Numa escapadinha de um ou vários dias. Estamos, claro, disponíveis para ouvir conselhos e dicas para melhorarmos os nossos roteiros!
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